O primeiro amor dá demasiadas alegrias, mais do que a alma foi
concebida para suportar. É por isso que a alegria dói - porque parece
que vai acabar de repente. E o primeiro amor dói sempre demais, sempre
muito mais do que aguenta e encaixa o peito humano, porque a todo o
momento se sente que acabou de acabar de repente. O primeiro amor não
deixa de parte um único bocadinho de nós. Nenhuma inteligência ou
atenção se consegue guardar para observá-lo. Fica tudo ocupado. O
primeiro amor ocupa tudo. É inobservável. É difícil sequer reflectir
sobre ele. O primeiro amor leva tudo e não deixa nada.
Diz-se que não há amor como o primeiro e é verdade. Há amores
maiores, amores melhores, amores mais bem pensados e apaixonadamente
vividos. Há amores mais duradouros. Quase todos. Mas não há amor como o
primeiro.
O primeiro amor é aquele que não se limita a esgotar a disposição
sentimental para os amores seguintes: quer esgotá-la. Depois dele, ou
depois dela, os olhos e os braços e os lábios deixam de ter qualquer
utilidade ou interesse. As outras pessoas - por muito bonitas e
fascinantes que sejam - metem-nos nojo. Só no primeiro amor.
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